O marinheiro

Querer estar onde não está, bem longe, onde os limites do horizonte prometem outro horizonte.
Vai, então, construindo caravelas de esperança e lança-se no mar do desconhecido.
A velha crónica…
E crónico é esse intento: estando bem aqui, logo se deseja ali.
Desfralda velas e parte, acontece muito que, a meio caminho de nenhures, lhe apetece algures. Acontece.
Em alguma parte se há de encontrar por inteiro, bem longe, ou vai-se reconhecendo em pedaços pelo caminho, ficando repartido pelo mundo.
Por vezes, as velas rasgam, tamanha é a tempestade, e a barca fica perdida no meio do oceano. Mas assim que as remenda, na calma, vê-se de novo a caminho do cabo que deseja dobrar.
Ás vezes, a intempérie é tal que rombos se abrem na barca. O problema é que já não restam muitas ilhas onde naufragar.
Tem tempos em que fundeia em porto seguro, a nave fatigada, estica as amarras, encontra na segurança de um carinho prometido, o embalo da ânsia que adormece numa certeza frágil.
É. Homens no mar, tempestade em terra. Só as gaivotas riem dessa inconstância.
A cada tatuagem na alma, por cada porto amado, vai descobrindo sua real presença. É na sua caravela que vai reconhecendo seu peso na terra, para que não se afogue na insignificância que ocupa no universo.
Tanto para descobrir.

O marinheiro


Ilustração semeada e colhida no Adobe Firefly

Make a free website with Mobirise